Era como se minhas lágrimas não mais existissem, ou também os
pensamentos, sonhos e desejos que uma dia tivera. Gelada, me abraçava,
aconchegava-me em teus braços, e pela primeira vez me senti calmo. A
leveza se descrevia em meu corpo e não mais o sentia, mas ainda estava
ali. Conseguia ainda enxergar, e adorava o que estava vendo. Havia uma
árvore com flores lilás acima de mim, e rostos, mas não os via muito
bem, o que era estranho, pois conseguia ver as folhas caindo da árvore
em seus tons marrons de Outono, mas os rostos que estavam perto... não
os via. Foi então que tentei observá-los bem, e num instante tão obscuro
quanto o acontecimento, lembrei-me de todas as pessoas de importância
que passaram por minha vida. Lembrei do vovô, e dos diversos natais que
não compartilhamos, pela ignorância que tive em apenas não ir. Lembrei
de alguns amigos que não protegi das maldades do mundo, e lembrei também
da minha mãe, cuja qual sempre julguei, mas no fundo amava. Inúmeras
foram as pessoas cujas quais não disse "Eu te amo!", e este era o meu
pequeno inferno, presente até o último instante e depois à toda
eternidade; embora, opostamente, eu tivera dito à pessoas que não o
mereciam, e tantas e tantas vezes. Quis, naquele instante, levantar-me,
correr aos braços de qualquer rosto de que pudia me lembrar, mas não
tive forças, e expirei ali, ao chão, deitado em minhas amarguras e
solidões, questionando-me sobre os "Eu te amo" que deixei de dar, e
observando a árvore se apagar.
Elcimar Reis.